Jarno Saarinen, o "finlandês voador"
Atualizado: 20 de jul. de 2022
Jarno nas 200 Milhas de Daytona, 1973
Jarno Karl Keimo Saarinen (11.12.1945 - 20.05.1973) foi um piloto da maior relevância na cena da velocidade internacional. A sua rapidez e domínio que exerceu valeram-lhe as alcunhas de “finlandês voador” e “barão”.
Autocolante e Jarno no Ice Racing em 1961
Apesar da sua curta carreira fora de portas, entre 1970 e, por força do seu trágico desaparecimento, 1973, deixou marcas que perduram até hoje:
ascendeu de forma meteórica até que, em 1973, se apresentava como o maior candidato ao titulo nas classes de 250cc e 500cc;
revolucionou a forma de conduzir, sendo o primeiro piloto a raspar os joelhos no chão por forma a melhor sentir os limites, impôs uma elegante técnica de condução que perdura até hoje;
nunca permitiu que terceiros cuidassem das suas motos, era engenheiro mecânico e encarregava-se pessoalmente da manutenção e afinação das máquinas que tripulava. Ainda assim, para sua última época (1973), na qualidade de piloto de fábrica em duas classes, 250cc e 500cc, admitiu Vince French como mecânico e o jovem japonês Saito como ajudante;
a sua namorada e posteriormente esposa, Soili Karme, era uma parte importante da sua equipa, tendo a seu cargo toda a organização do trabalho de paddock;
até hoje, é o único finlandês que alcançou um título de Campeão do Mundo de Velocidade, 250cc em 1972;
alcançou uma grande popularidade, tendo a sua notoriedade rapidamente extravasado os limites do Continental Circus para alcançar o grande público;
finalmente, o trágico acidente em que faleceu (20 de Maio de 1973, GP das Nações em Monza) juntamente com Renzo Pasolini, constitui um, triste, marco que se tornou preponderante para alterar de forma positiva o paradigma da segurança passiva dos circuitos.
O inicio
Jarno nasceu e foi criado no Sul da Finlândia, em Turku. Aos 15 anos foi trabalhar como aprendiz e piloto de testes da TUNTURI PUCH, uma fábrica, em Turku, que fabricava motos sob licença da austríaca PUCH.
Disputou a sua primeira corrida, Ice Racing, em 1961 em Ylone, tendo alcançado a segunda posição, a partir daí, juntamente com o seu grande amigo Teuvo Lansivuori, participou regularmente em corridas de Ice Racing, Grasstrack e Velocidade.
Em 1965, sagrou-se Campeão Finlandês de Ice Racing na classe 250cc, revelando-se também, um bom piloto de Speedway.
Em 1968, estreou-se, de forma esporádica, no Campeonato do Mundo de Velocidade, tendo participado no GP da Finlândia, em Imatra, na classe 125cc aos comandos de uma PUCH, a moto tinha prestações insuficientes para este nível, acabou em 11º lugar com 3 voltas de atraso em relação aos 2 primeiros, Phil Read e Bill Ivy.
Em 1969 venceu o Campeonato Finlandês de Velocidade nas classes 125cc e 250cc.
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Soili Karme a dar informação!
Imagens da cumplicidade entre Jarno e Soili ao longo da curta carreira no Continental Circus
O Campeonato do Mundo de Velocidade
Da esquerda para a direita, Vince French (o piloto que se tornou mecânico) com Jarno e um trio de respeito: Giacomo Agostini, Phil Read e Jarno
1970
Em 1970, conseguiu um financiamento para continuar os seus estudos de engenharia mecânica e com a liquidez daí proveniente planeou uma época nas 250cc o Mundial.
Participou com uma YAMAHA TD-2 em 8 das 12 corridas que compunham o campeonato desta classe.
Não correu na Ilha de Man por discordar da evidente falta de segurança desse traçado e não participou nos 3 últimos GP (Dundrod/Irlanda, Monza/Nações e Montjuich/Espanha) para poder concluir o curso de engenharia mecânica no Turku Technical Institute.
Apesar destes constrangimentos, seria o 4º classificado do campeonato, tendo alcançado a terceira posição, a sua melhor classificação até aí, em Assen e em Brno.
As 3 primeiras posições do campeonato foram ocupadas respetivamente por Rodney Gould, Kel Carruthers e Kent Andersson, todos em YAMAHA.
1971
Na sua segunda época mundialista, em 1971, Jarno participou nas 250cc e nas 350cc os comandos das ARWIDSON-YAMAHA, respetivamente TD-3 e TR-3.
Curiosamente, participaria também nas duas últimas provas de 50cc, ao serviço da KREIDLER Van Veen, para, juntamente com Barry Sheene, ajudar Jan de Vries a conquistar o título contra o seu principal opositor Angel Nieto em DERBI.
Nestas participações alcançou um 6º lugar em Monza e um 2º lugar em Montjuich, no final Jan de Vries sagrar-se-ia campeão, tendo, portanto, o objetivo sido alcançado com sucesso.
Imagens da aventura de Jarno nas 50cc, de cima para baixo e da esquerda para direita, em acção, a armada anti-Nieto da KREIDLER Van Veen, Jos Schurgers, Jan de Vries, Barry Sheene e Jarno, finalmente com a sempre presente Soili
Como, nessa altura, apenas contavam as 7 melhores pontuações, os pilotos optavam por razões estratégicas e/ou orçamentais pelos GP em que participavam assim, Jarno participou em 8 dos 12 GP de 250cc e em 6 dos 11 GP de 350cc.
Nas 250cc ficou em 3º lugar no campeonato atrás, respetivamente, de Phil Read e Rodney Gould, todos em YAMAHA, venceu o último GP da temporada em Montjuich.
Nas 350cc, venceu em Brno e em Monza, tendo-se sagrado vice-Campeão do Mundo atrás de Giacomo Agostini em MV AGUSTA.
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1972
Valorizando as qualidades que Jarno demonstrou, a YAMAHA contratou-o como piloto de fábrica para disputar as classes de 250cc e 350c em 1972.
A aposta revelou-se acertada e no final do ano, Jarno era Campeão do Mundo de 250cc depois de uma luta intensa com Renzo Pasolini em AERMACCHI e Rodney Gould também em YAMAHA.
Venceu em 4 corridas. Spa-Francorchamps, Sachsenring, Brno e Imatra, dos 10 GP em que participou.
Jarno com as mãos na massa
Nas 350cc foi, mais uma vez, vice-Campeão do Mundo e, também mais uma vez, atrás de Giacomo Agostini em MV AGUSTA, no entanto, desta vez, Agostini venceu com mais dificuldade e a MV AGUSTA viu-se mesmo obrigada a produzir uma nova moto para fazer frente ao finlandês voador.
Venceu 3 corridas, uma delas, Nurburgring, numa luta taco-a-taco com Agostini que durou toda a prova.
1972 com ARWIDSON YAMAHA
No final da temporada, Jarno negociou com a BENELLI para tripular no ano seguinte motos da marca transalpina nas 350cc e nas 500cc, depois de ter feito um teste secreto em Modena, participou de uma prova extra-campeonato em Pesaro onde, venceu as duas classes à frente de Agostini.
A YAMAHA reagiu e contratou-o para em 1973 defender o título das 250cc e, também, para correr nas 500cc aos comandos da nova YZR500, numa tentativa, como se viria a verificar, realista de pôr fim ao longo domínio da MV AGUSTA na classe raínha.
1973
Assim, Jarno, chegou á pré-temporada de 1973 na qualidade de grande protagonista.
Ainda antes do Campeonato do Mundo de Velocidade ter o seu início, venceu as 200 Milhas de Daytona aos comandos de uma YAMAHA TZ350 contra motos de maior capacidade e foi também aos comandos da mesma moto que venceu as 200 Milhas de Imola, a primeira prova do, então, recém criado Troféu FIM de Formula 750.
GP de França, 1973, primeira corrida de 500cc, primeira vitória!
Super moralizado, ataca a primeira prova do CMV, o GP de França em Paul Ricard, tendo vencido as corridas de 250cc e 500cc.
Na segunda prova da temporada, o GP da Áustria em Salzburgring, voltou a vencer nas duas classes.
Na terceira prova, o GP da Alemanha em Hockenheim, venceu as 250cc e desistiu nas 500cc, corrente de transmissão partida, quando discutia a primeira posição com Phil Read.
A quarta prova, o GP das Nações em Monza, ficou marcado pelo trágico acidente na corrida de 250cc que pôs fim à vida de Jarno e Renzo Pasolini e que envolveu mais de 14 pilotos, ente eles Hideo Kanaya, Walter Villa, Victor Palomo, Fosco Giansanti, Borje Jansson e Chas Mortimer.
Aconteceu na primeira volta, na primeira curva, no momento em que Renzo se despistou tendo embatido nos rails, segundo o relatório terá tido morte instantânea, a sua moto terá feito ricochete e atingido Jarno na cabeça provocando os ferimentos que lhe foram fatais.
Entre os outros pilotos houve vários feridos, alguns com gravidade, vários necessitaram de posterior apoio psicológico para lidar com o trauma que lhes foi provocado, a corrida foi anulada, tal como a prova das 500cc que se lhe iria seguir.
O relatório final - após outras considerações que teriam a ver com óleo que a BENELLI de Walter Villa teria largado no final da prova anterior (350cc) e que não teria sido devidamente removido – apontou como causa o facto de o motor da moto de Renzo ter gripado e, consequentemente, ter bloqueado a roda traseira!
Indiscutivelmente, Jarno Saarinen é até hoje uma figura ímpar do motociclismo e será sempre recordado pela importância dos seus resultados, pela popularidade que a sua simpatia e simplicidade geraram e, tristemente, pela importância que o acidente que o vitimou ter contribuído de para melhorar de forma decisiva as condições de segurança passiva no Campeonato do Mundo de Velocidade.