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Coluche, a história de um motociclista

Atualizado: 7 de jul. de 2022


Coluche na ocasião da sua primeira tentativa de record


Michel Gérard Joseph Colucci - notabilizado como Coluche – (1944-1986) foi um comediante de grande sucesso em França.


A par da sua atividade profissional, desenvolveu um grande gosto pelo motociclismo e em 1985 entrou para a galeria dos notáveis ao estabelecer um recorde de velocidade.


Já na altura a relevância dos recordes de velocidade não era de primeira ordem, no entanto eu tenho esse episódio bem presente pelo facto de o protagonista ser uma figura pública de primeira grandeza em França e de, nessa época, a informação a que tinhamos acesso em Portugal ser maioritariamente proveniente daí (a “Moto Journal” e a “Moto Revue” – chegavam com duas semanas de atraso às bancas portuguesas e eram a informação mais fresca a que podiamos aceder - nessa época, em Portugal, a informação das motos era tratada como parente pobre nas publicações de automóveis e a “Moto Jornal” era editada mensalmente – com alguns interregnos -).



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O recorde protagonizado por um palhaço de 94 kg!


O humorista juntamente com o seu amigo e jornalista Erick Courly propuseram-se ultrapassar o recorde de velocidade na classe 750cc.


Coluche tentaria bater a marca estabelecida para o km lançado (219 km/h) enquanto Erick se propunha ultrapassar a marca da milha lançada.


Estes recordes são estabelecidos de acordo com a velocidade média na extensão em causa.


Para o efeito iriam utilizar uma YAMAHA 750 OW31 aos comandos da qual Patrick Pons, na altura já falecido, tinha terminado o “Bol d'Or” na segunda posição em 1979.


O objetivo de Coluche era conseguir os 300 km/h de média.

A tentativa iria realizar-se no anel de Nardò que é uma estrutura única no Mundo destinada ao ensaio de veículos automóveis e que, entre outras, tem sido utilizada como pista de ensaios da FIAT, é um traçado perfeitamente circular, quase horizontal, com um raio de 2 km e comprimento de 12,57 km, a zona exterior tem uma inclinação (relevé) para o interior.


Por forma a oficializar o eventual record, suportaram os custos dos cronometristas e dos responsáveis da federação italiana e internacional, deslocaram-se para Nardò, em 17 de Julho de 1985, um amigo conduziu uma CITROEN DS station onde acomodavam a moto, Erick e Coluche (deslocaram-se de avião) estavam em Nardò para alcançar os seus objetivos.


O motor gripou na primeira tentativa e como não levavam peças regressaram a casa de mãos a abanar.


A popularidade dos intervenientes levou a que a ELF se interessasse por esta operação, assim patrocinou-os e a 29 de Setembro do mesmo ano, Coluche conseguiu finalmente o seu primeiro objetivo, o recorde do km lançado em moto 750cc.


Falhou os 300 km/h, mas conseguiu alcançar a média de 252,087 km/h, Erick teve também sucesso ao estabelecer a melhor marca para a milha lançada: 259,108 km/h.



O recorde de Coluche foi batido por Loris Capirossi em 1993, também em Nardò, aos comandos de uma HONDA NR 750, com a média de 299,825 km/h.


Este é a marca que, ainda hoje, está por bater.


Coluche por Jean Graton



O feito de Coluche atingiu na altura uma popularidade, em França, de uma grandeza tal que mereceu a edição de uma edição da autoria de Jean Graton (o popular autor de Michel Vaillant): “COLUCHE C'est l'exploit d'un mec...”


A génese


Michel Colucci era filho de pai (pintor e decorador) italiano e mãe francesa (florista), nasceu e foi criado em Paris, não gostava de estudar, ficou orfão de pai aos 3 anos.

Durante a sua juventude a mãe proporcionou-lhe uma SUZUKI 50 para que ele a ajudasse na entrega das flores.


O que a mãe não sabia é que ele emprestava a moto a René Metge que, por vezes, a utilizava para disputar corridas no circuito de Montlhéry, Coluche acompanhava-o para viver o ambiente das corridas de que muito cedo se apaixonou e ambos eram fãs da vedeta francesa dessa época Georges Monneret.


A carreira


Antes de iniciar uma carreira profissional de comediante, Coluche dedicou-se a várias ocupações, empregado de estação de serviço, comerciante de frutas e legumes, florista e empregado de mesa.


Posteriormente interessou-se pela música e começou atuar nos cafés parisienses e foi nessa condição que conheceu Georges Moustaki de quem se tornou amigo, protegido e que, nessa altura, o albergou, tendo também oferecido a sua primeira verdadeira moto.



Posteriormente iniciou a sua carreira de comediante, primeiro ajudou a constituir mais do que uma trupe de comediantes e, embora tivesse tido sucesso de imediato, os seus problemas de adição com o álcool impediram-no de continuar nessa senda.


Nesse período casou-se e teve dois filhos.


De seguida optou por se lançar numa carreira a solo.


Nessa condição, sempre considerado um humorista irreverente e ácido, obteve uma grande notoriedade nos palcos, rádio, cinema e também na televisão enquanto ator e realizador.


J'y ai dit viens

Em 1980 anunciou a sua candidatura, suportada e promovida pela editora “Charlie Hebdo”, às eleições presidenciais aproveitando a sua popularidade para ridicularizar o cargo de presidente em particular e os cargos políticos no geral, finalmente renunciou e não chegou a concorrer.


Os seus slogans eram: “Antes de mim, a França estava dividida em duas, agora será dobrada em quatro” (no original “être plié en quatre” que em tradução livre poderá ser “vai desmontar-se a rir”) e “Coluche – o único candidato que não tem motivos para mentir”.


A pressão (François Miterrand viu-o como uma ameaça à sua própria candidatura) e o assassinato do seu empresário (René Gorlin) terão sido as razões para a sua desistência.



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Devido ao suicídio de um amigo, Patrick Dewaere, com uma arma que Coluche lhe tinha oferecido, entra num período sombrio e, em 1983, desempenha um papel dramático em “Tchao Pantin” que lhe vale um “César Award” como ator principal na categoria “Best Foreign Language Film”.


Nesta fase empenhou-se também em várias causas de caráter social, tais como “SOS Racisme” e tendo fundado, em 1985, “les Restos du Coeur”.


Na mesma época ganhou também protagonismo ao anunciar o casamento com Thierry Le Luron, outro comediante francês de grande renome.


Para gáudio da comunidade das artes e dos franceses, simularam o casamento em Montmartre onde se comprometeram “para o melhor e para rir”.


Essa afirmação, e o falso casamento em si, são muitas vezes interpretados como um ato público de vingança, especialmente pelos amigos de Le Luron, pois a maior parte da atenção estava concentrada em Coluche, embora a imprensa elogiasse os dois pela sua franqueza.


A 19 de Junho de 1986, faleceu num acidente de estrada ao atingir um camião aos comandos da sua HONDA VF 1100 C e numa altura em que circulava, sem capacete, com alguns amigos.


A sua notoriedade deu origem a muitas especulações sobre o acidente e algumas teorias da conspiração.


De facto as investigações levadas a cabo descartaram a hipótese de assassinato e concluíram que atingiu o camião, que fazia uma manobra de mudança de direção numa estrada nacional, com excesso de velocidade e sem capacete.


As motos


Durante a sua, curta, vida, Coluche teve muitas motos, entre elas: YAMAHA RD 500 LC (pintada de cor de rosa), MARTIN Kawasaki (com kit MORIWAKI), YAMAHA FJ 1100, KAWASAKI RX 1000, KAWASAKI Z1 900 e muitas outras.


Coluche com Raymond Roche numa ocasião em que experimentou a HONDA NS 500 do piloto francês


A moto que tripulava quando teve o acidente fatal, HONDA VF 1100 C, estava bastante alterada (escape racing completo e sistema de tomadas de ar forçado), sobre ela, Coluche disse: “Construí a V Max que a HONDA nunca ousou construir”.


Sempre que possível, gostava de visitar as corridas de motos e viver a paixão que tinha desde criança.


Nas suas relações de amizade pontuavam muitos pilotos, jornalistas e outros que viviam na intensidade deste meio.


“Je veux chevaucher une dernière fois

Mon cheval d'acier vers la mort

Je veux monter là-haut, tout là haut

Sur la colline de mon malheur

Et me jeter dans le précipice

De mon destin“


letra escrita por Coluche para uma canção de Boby Bouillon, para o seu personagem na peça “Ginette Lacaze”





Links de consulta:

http://www.bike70.com/colucheM.html

https://www.la-croix.com/Culture/19-juin-1986-mort-Coluche-dans-accident-moto-2016-06-19-1200769717

http://www.lerepairedesmotards.com/dossiers/pilotes/coluche.php

http://www.lerepairedesmotards.com/actualites/2011/actu_110609-reedition-dossier-coluche-parjean-graton.php

http://lesitecoluche.free.fr/moto/index.htm

https://www.motomag.com/Document-Ina-Coluche-raconte-son-record-du-monde-a-moto-video.html#.XFdHs1X7TIU

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